Qual é o crédito de um perfumista sem formação? Quero escrever hoje sobre a história de um perfumista autodidata que você irá se surpreender! Acompanhe até o final
Como muitos sabem, eu também sou um perfumista autodidata, que descobriu nos cheiros uma forma de se expressar artisticamente. Além de perfumista, também sou musiscista autodidata, com domínio em violão e guitarra elétrica.
Assim como a música, a perfumaria também é uma arte. Arte, por definição, é tudo aquilo que aguça nossos sentidos, visão, paladar, tato, audição e olfato. Pintura, Gastronomia, Esculturas, Músicas e Perfumaria são alguns exemplos de arte que aguçam os sentidos humanos, respectivamente listados.
No mundo da perfumaria, um Maestro Perfumista é um título concedido a Perfumistas com formação em Grasse, na França, considerado o berço da perfumaria. Grandes perfumistas possuem formação em Grasse, como Jacques e Olivier Polge, perfumistas residentes da grife Chanel. Porém, existem centenas (ou talvez milhares) de perfumistas mundo afora sem formação em Grasse, onde muitos são entitulados como Perfumistas Independentes ou Perfumistas Autodidatas.
Há, entretanto, na comunidade de perfumaria, uma parcela de entusiastas, profissionais e críticos do ramo que subestimam ou não reconhecem como perfumistas os criadores de fragrâncias, sejam elas artesanais, indies ou nicho, do qual também sou vítima de tal preconceito, pois afinal, para ser perfumista é necessário formação, de acordo com a indagação destes.
Como dito anteriormente, há centanas de perfumistas autodidatas no mundo, ou talvez milhares, com formações em áreas totalmente distintas da perfumaria, mas que encontraram na perfumaria um caminho de se manifestarem artisticamente, criando joias e fragrâncias icônicas, porém hoje quero falar de um em específico.
Nascido em Sevilha, na Espanha, cresceu rodeado de plantas e flores, como o jasmim e a flor de laranjeira, que cercavam o quintal de sua casa, sendo desde muito jovem era apaixonado por cheiros. Um belo dia, o jovem folheava uma revista Vogue, até que se deparou com um artigo sobre Jean-Paul Guerlain... Esse foi o momento em que o jovem se convenceu de que seria um perfumista. Muito jovem, ainda aos 19 anos, mudou de país em busca de seu sonho, aventurando-se para Suíça, mais precisamente em Genebra, a procura de uma oportunidade. Porém muito jovem e sem nenhuma formação, teve que lidar com rejeição, até que por muito implorar, uma chance foi concedida pela gigante Firmenich, o jovem garoto seria ajudante. Entretanto, seu grande sonho era ser um perfumista, criar e replicar cheiros que marcaram sua infância. Nesse período, o jovem estudou na escola Beaux Arts de Genebra, uma escola de artes. Anos depois, o sonho alcançado, foi nomeado perfumista da Firmenich.
Seu primeiro perfume criado foi o Must, para a renomada grife de joias Cartier, ali começava a sua jornada de criações. Mas foi nos anos de 1990 que conseguiu o seu primeiro sucesso global, o renomado CK One, a primeira fragrância No Gender, uma revolução na perfumaria à época. E sim, o perfumista de quem falo é Alberto Morillas.
Fonte: DSM Firmenich
Alberto Morillas, um perfumista autodidata. Porém tido para muitos, o maior perfumista da história, criador de icônicas fragrâncias como CK One, Acqua Di Gio, 212 Men, Kenzo Flower, Versace Pour Homme e Bvlgari Omnia, dono de uma assinatura olfativa única e indistinguível. Morillas desenvolve suas fragrâncias com fórmulas e ingredientes inspiradas em cheiros que marcaram sua infância, sendo grande apreciador de acordes florais e frescos.
Morillas não se envergonha ao dizer ser autodidata, muito pelo contrário, sempre diz abertamente sobre, é movido por suas emoções e inspirações. Morillas acredita que um perfume deve contar uma história e provocar emoções profundas em quem as sente, e isso de fato é perceptível em suas grandes criações. Alberto Morillas talvez seja a maior prova de que perfumaria não é uma ciência, mas sim uma arte.
É evidente que o estudo, a formação acadêmica são importantes para a formação de qualquer profissional, mas quando falamos de arte, a formação nunca deve sobrepor a expressão artística. Morillas é pessoalmente minha grande inspiração como perfumista, não a imitá-lo, mas a buscar de maneira artística minha própria assinatura olfativa.
Se caso alguém ainda ousa dizer que um perfumista autodidata não é um perfumista, Alberto Morillas é a prova de que esse pensamento é um grande equívoco.
Texto escrito por Ozeias Silva, perfumista (autodidata) da Vivant Cosméticos.