Segredos da íris que nunca te contaram, mas eu conto!

 

Escrito por Ozéias Silva, perfumista independente e autodidata, idealizador da premiada linha L'Homme da Vivant, linha pensada e trabalhada para explorar a íris de diversas maneiras.

 

Vencedor do Óscar da Perfumaria em 2023 com L'Homme Noir e finalista em 2023 e 2024 com outras 3 fragrâncias.

 
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A íris é, com certeza, o ingrediente mais elegante e refinado da perfumaria ocidental. Seu cheiro intrigante, polvoroso, atalcado e até terroso traz uma vasta opção de acordes olfativos de diversas famílias olfativas, que vão desde aromáticos, amadeirados e orientais. Mas e se eu te disser que a flor íris NÃO TEM CHEIRO?

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MAS ENTÃO DE ONDE VEM ESSE CHEIRO CARACTERÍSTICO DESSA FLOR NOS PERFUMES?

 

Imagine-se amante de íris na perfumaria, estando em um jardim repleto de flores e, de repente, se dá de frente com um belo campo de íris, com tons violeta, bem imponentes. Você certamente seria atraído a cheirar a pétala esperando sentir o aroma polvoroso, ou quem sabe de giz de cera e, de repente, você não sente nenhum cheiro ou odor.

 

Na realidade, a flor íris é praticamente inodora, suas pétalas possuem cheiro praticamente neutro. O cheiro característico da íris nos perfumes vem, na realidade, da sua raíz, também conhecida como raíz de orris.O processo de extração natural dessa raíz para uso na perfumaria é complexo e demorado, o que faz com que essa matéria-prima tenha um dos preços mais elevandos por quilo.

 

Seu processo de extração se dá após recolhidas essas raízes, semelhantes à uma batata. Essas raízes são limpas e armazenadas por cerca de 3 anos em local limpo e com temperatura controlada, até que atinjam seu tamanho ideal para obtenção do absoluto de íris ou a manteiga de íris. Nesse período, seu cheiro característico é intensificado, já que a raíz fresca, assim como as pétalas, possuem cheiro praticamente neutros. Passados os 3 anos, as raízes passam por um processo de pulverização e, consequentemente, são levadas para um processo de destilação à vapor, onde é obtido o seu absoluto ou manteiga.

 

Devido à complexidade do processo de extração, o tempo e o rendimento da extração, a íris tem seu valor elevado por quilo, o que a torna um dos ingredientes mais caros da perfumaria. O status de elegância e nobreza da íris não é proveniente apenas do cheiro característico de seu absoluto, mas pelo preço elevado que dificultava o acesso popular ao seu absoluto, sendo acessível somente às classes mais nobres da sociedade.

 

MAS ISSO COMEÇARIA A MUDAR NO SÉCULO XX:

 

No início do século XX a química vinha de avanços cruciais, contribuindo com a sociedade em diversos aspectos, e com a perfumaria não foi diferente. Os químicos alemães Ferdinand Tiemann e Paul Krüger foram os primeiros a sintetizar a molécula que dá cheiro característico ao absoluto de íris: a Ionona. Ionona é uma molécula com cheiro característico de violeta e íris. A sintetização foi um marco para a difusão da íris em perfumes clássicos, sendo amplamente explorada na alta perfumaria até os dias de hoje.

 

MAS O SINTÉTICO TEM BOA QUALIDADE?

 

Sim, sintéticos de iononas possuem boa qualidade, desde que adquiridos em boas casas de fragrâncias, o que contribui para diminuição dos custos de produção de uma fragrância, tornando-a acessível para diversos públicos.

 

ENTÃO O CHEIRO DA ÍRIS DOS PERFUMES VEM DA MOLÉCULA IONONA?

 

Sim, mas não apenas da ionona. Um perfume de íris pode trazer diversas nuances de íris, aspectos mais polvorosos, com mais dulçor, menos dulçor, toques amargos, amadeirados, amanteigados, cerosos, assabonetados e até terrosos. Tudo depende do objetivo do perfumista ao criar uma fragrância. Por exemplo, uma íris amanteigada é feita com ionona mesclada com ambares, resinas e madeiras como sândalo, já íris assabonetadas mescla iononas com cítricos ou florais, como flor de laranjeira, jasmin, bergamota e néroli com musks.

 

A íris é uma matéria-prima muito versátil, podendo combinar e se encaixar com diversos acordes e famílias olfativas. Um segredo que não tem contam é que, as iononas são utilizadas em boa parte das formulas de perfumes para estabilizar ou neutralizar algum ingrediente, mesmo quando "íris" ou "raíz de orris" não é listada na pirâmide olfativa disponibilizada pelo fabricante.